O ano de 2023
Em 2023, Portugal testemunhou um crescimento económico de 2,3%, impulsionado significativamente pela demanda interna, que contribuiu com 1,4 pontos percentuais para o incremento do PIB real. O consumo privado registou um aumento de 1,6%, impulsionado, em parte, pela recuperação das vendas automóveis. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) observou um crescimento de 2,4%, destacando-se o aumento de 18,7% no investimento em transporte e um crescimento de 4,2% em máquinas e equipamentos.
Efeitos da procura externa
A contribuição da procura externa para o crescimento foi de 0,9 pontos percentuais, fruto de um aumento de 4,2% nas exportações. Os serviços continuaram a expandir-se a um ritmo elevado de 10,6%, enquanto o crescimento nas exportações de bens desacelerou para 1,1%, refletindo um crescimento moderado em alguns dos principais parceiros comerciais. Por outro lado, as importações cresceram 2,2%, com as importações de bens a aumentar 1,6% e as de serviços 5,4%. A melhoria dos termos de troca, beneficiando da redução de 4,0% no deflator implícito das importações, foi um destaque, particularmente devido à diminuição significativa nos preços dos bens energéticos em comparação a 2022.
Crescimento mais contido
Face a uma inflação que voltou a um ritmo descendente em fevereiro, situando-se em 2,1% após um breve aumento em janeiro, a expectativa para 2024 aponta para um crescimento mais contido, revisto de 1,8% para 1,6%. Isto deve-se, em parte, ao impacto que a desinflação terá na política monetária do Banco Central Europeu, sugerindo um crescimento mais moderado no primeiro trimestre do ano.
Contributo da Construção para o mercado de trabalho
O mercado de trabalho manteve a sua atração em 2023, com um crescimento do emprego em torno dos 2%, atingindo o nível mais alto desde 2008. A construção e o setor de alojamento e restauração lideraram este aumento. No entanto, a taxa de desemprego viu um ligeiro aumento, de 6,2% em 2022 para 6,5% em 2023, refletindo um desafio crescente na absorção da população ativa em expansão.
Previsões e Estatística
Estima-se um crescimento de 3% no Valor Bruto de Produção do setor construtivo para 2024. Segundo as análises do Banco de Portugal, estas análises apontam para uma expansão moderada de 1,2% do PIB em 2024, um crescimento inferior aos 2,1% projetados para 2023.
Este panorama reflete a incerteza predominante no contexto económico tanto nacional como global. A par com um decréscimo na procura externa, os impactos acumulados da inflação e uma política monetária mais restritiva, o financiamento ficou mais complicado para os agentes económicos.
Perspetivas para o Sector da Construção
Contudo, o setor da construção mantém perspectivas de um desenvolvimento sustentado, esperando-se que o Valor Bruto de Produção real oscile entre 2% e 4% em 2024, alinhando-se com as previsões de Outono da Comissão Europeia que antevê um crescimento de 2,9% do investimento na construção em território português.
Este otimismo baseia-se na evolução positiva de vários indicadores sectoriais em 2023, nomeadamente a criação de aproximadamente 20 mil novos empregos até ao término do terceiro trimestre, um incremento de 2,5% no consumo de cimento e um salto de 70,9% nos concursos para obras públicas até novembro, numa comparação anual.
O mercado da Habitação
No segmento habitacional, apesar de uma queda de 20,9% nas transações de alojamentos nos primeiros nove meses de 2023, observou-se um aumento de 7,6% no índice de preços das habitações no terceiro trimestre do ano. Além disso, até outubro, registou-se uma redução de 10,3% no licenciamento de edifícios residenciais e um aumento de 5,6% nos fogos em novas construções, sinalizando um interesse crescente na edificação de estruturas multifamiliares. Importante frisar que o segmento habitacional representa a maior fatia no PRR, com 269 municípios aprovando Estratégias Locais de Habitação alinhadas com os objetivos do programa 1.º Direito. Assim, considerando a evolução de 2023 e os fatores supracitados, prevê-se um aumento entre 1% e 3% no valor bruto da produção deste nicho de mercado em 2024.
Quanto aos edifícios não residenciais, antecipa-se que o crescimento do valor bruto da produção oscile entre 0% e 2%, refletindo a previsão de um arrefecimento económico e um decréscimo de 6,4% no licenciamento de estruturas não habitacionais até outubro de 2023, contrapondo-se a um aumento de 5,7% na área licenciada, em termos anuais.
No âmbito da engenharia civil, 2023 testemunhou um notável crescimento, impulsionado pelos fundos europeus, especialmente através do PRR e do Portugal 2030.
Até novembro, constatou-se um aumento de 70,9% nos montantes de concursos públicos e de 30,6% nos contratos de obras públicas, reforçando a expectativa de que este segmento persistirá como o mais dinâmico em 2024, projetando-se um crescimento entre 3,5% e 5,5% no seu valor bruto de produção.
Deste modo, antecipa-se que o setor da construção em Portugal desempenhe um papel crucial na dinâmica económica nacional em 2024, com a produção total estimada a crescer 3%, alcançando cerca de 21.212,9 milhões de euros.
Fonte:AICCOPN